domingo, 12 de julho de 2009

I trust my dealer [eu confio no meu traficante]

A música eletrônica é velha. Há mais de 80 anos atrás, o russo (sempre eles!) Leon Theremin apresentava ao mundo um dos primeiros instrumentos eletrônicos: o Theremin. Este funcionava através de dois imãs que, presos aos dedos e se comunicando por antenas magnéticas, controlavam freqüência (graves e agudos) e volume (forte e fraco). O som era criado a partir de fontes puramente elétricas, sem nenhuma mediação acústica, que só aparecia depois na forma de um alto-falante. Apropriada pela música erudita, a eletrônica (na forma de colagens de fitas e manipulações de sinais elétricos) prometia a ruptura com todo o reino da representação que caracterizou a arte desde sua suposta redescoberta pelos renascentistas. O futurismo italiano glorificava sons mecânicos e a lógica da máquina que podia redimir o homem. A apologia do progresso e o caráter messiânico de certas corrente modernas me causam risos até hoje. O futuro não chegou e ficamos presos em um eterno presente, sentindo saudades de um passado falsificado que nunca existiu.

Em certo momento da história, algum ex-hippie descobre a música eletrônica. Reinventar a roda parece ser o maior passatempo humano. Depois do rock ter ensurdecido e emburrecido gerações, o que viria depois provaria ser a própria caixa de Pandora.

Esse revival da música eletrônica das raves de Goa só existiu devido a uma substância: o MDMA. Misturada a batidas repetidas e inundando o cérebro de prazer, a utopia se encontrava aqui e agora. O argumento de que a música eletrônica não é música certamente é um ponto forte. Trata-se de um barulho que induz ao transe. Vazio de significados, pura formalismo da técnica, leva à dissolução do eu (não aquela potencialmente revolucionária, mas a puramente hedonista), até que se acorde em uma ‘blue Monday’ qualquer sentindo o vazio de um cérebro drenado de neurorecptores. Até o próximo fim de semana. A reflexão que pode brotar de uma obra de arte aqui é inútil, o que existe é o agora.

Vazios de conteúdos, esses ditos pós-modernos (que na verdade nada mais são do que o pastiche dos heróis modernos de outrora) ainda alegam que estão ligados a tradições xamânicas de qualquer local do planalto do Tibet. Falou então. Mero recalque movido a drogas sintéticas e outras nem tanto que anestesiam e alienam corpos frenéticos.

Tudo isso se mostra como típico de uma juventude que se quer 'muderna' e carrega em suas bocas um cadáver. E ainda vão dizer que o careta sou eu.
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